segunda-feira, 12 de março de 2012

PARA ONDE FOI A INDIGNAÇÃO???

                                                                      Foto (Paulo Pimenta)

Nesta segunda-feira faz um ano que milhares de portugueses saíram à rua. E depois? Para onde foi a indignação? Uma historiadora, um sociólogo, um psicanalista e um activista arriscam respostas
Há um ano, o país levou uma bofetada. Milhares de pessoas (cerca de 300 mil, segundo a polícia; mais de 500 mil, diz a organização) saíram à rua para protestar contra a precariedade que lhes foi imposta. O apelo à mobilização correu célere no Facebook, com alguns jovens até então anónimos a conseguirem aquilo que nenhum sindicato e nenhum partido haviam conseguido. Um ano depois, para onde foi tanta indignação? "Está paralisada pelo medo e pela estupefacção", responde Joaquin Estefanía, ex-director do diário espanhol El País, para quem o medo foi transformado numa arma de controlo social (ver entrevista na página ao lado).

Dizendo-se "atónita com tanta passividade" portuguesa, a historiadora Irene Flunsel Pimentel concorda que as pessoas estão "amedrontadas, aterrorizadas e desorientadas, sobretudo porque não vêem nenhuma luz ao fundo do túnel". "As que ainda têm emprego têm medo de o perder mas também não sabem muito bem o que fazer", explica, para, no jogo das diferenças com as reacções à crise nos outros países, atirar culpas à herança deixada por Salazar. "A Espanha e a Grécia tiveram tremendas guerras civis, com milhares de mortos, e isso acaba por se inscrever no código genético das populações. Nós tivemos um ditador que viveu sempre com o apoio de uma parte da população, não se pode dizer que subsistiu apenas através da repressão. Não havia liberdade, mas havia aquela pessoa que zelava pela nossa segurança, que não nos deixava cair na miséria total e que nos habituou a pensar que os outros é que mandam em nós".

O psicanalista Coimbra de Matos também alude à sensação de que nada se pode contra o que está a acontecer para explicar o que tem mantido a indignação portuguesa no reduto doméstico. "Somos um povo passivo, sem aquilo a que os ingleses chamam empowerment, de pessoas habituadas a não ter poder nas suas mãos, e suponho que isso deva algo à ditadura. Esta, sendo relativamente suave - não era como em Espanha, que matava muito mais -, apelava à capacidade de conformação dos portugueses e usava métodos que não suscitavam uma reacção tão maciça e tão discordante". Temos assim todo um país mergulhado numa "depressão patológica, que ?? uma reacção à perda e a um sentimento de injustiça, mas que, no caso português, não comporta a revolta e até acredita que a culpa é um bocado nossa, porque vivemos acima das nossas posses".

Numa leitura diferente, o sociólogo e político Augusto Santos Silva sustenta que a indignação se domesticou porque perdeu o alvo directo. "A actuação política em Portugal tornou-se exógena. Com a celebração do pacote de ajuda financeira, a capacidade de actuação autónoma do Governo diminuiu radicalmente aos olhos da opinião pública; logo, as acções reivindicativas deixaram de ter tantas condições de atingir os seus objectivos".

Inquestionável é que se a revolta que há um ano saiu à rua não assumiu entretanto contornos de violência, não é porque as perspectivas tenham melhorado. Ao contrário. O desemprego galgou entretanto até aos 14%: 770 mil pessoas sem trabalho. Se olharmos só para os sub-25, são 30,7% os desempregados. É a terceira maior taxa da UE. O resto é o que se sabe. A perpetuação dos contratos a prazo a assumir letra de lei, os estágios sem remuneração, a instabilidade dos recibos verdes a adiar o futuro. Mas os jovens não estão mais à rasca que os outros. A manifestação de há um ano, porque mobilizadora de todas as idades, mostrou-o. Havia pensionistas de pensões congeladas, logo sem dinheiro para a conta dos medicamentos. Havia famílias sobretaxadas, nomeadamente pelo medo de deixarem de conseguir pagar a casa. Sublinhem-se, a propósito, as 670.637 famílias que chegaram ao fim de 2011 a não conseguir pagar os empréstimos aos bancos.
                                                                                    Público 12 de março 2012

4 comentários:

  1. Bom Dia Antonio Querido.
    Acabo de chegar na(FIGUEIRA MINHA).
    Desculpa ter demorado em vir ando sentindo algumas dores e sendo obrigada a ficar fora do computador.
    Por favor não deixa de me visitar ai vou desanimar de vez.
    Creia adorei conhecer você és uma pessoa educada respeitador e admirado por mim.
    Referente a sua postagem fico triste em ver Portugal sofrendo por causa de governantes corruptos tal como no Brasil.
    Aqui é pobre virando miserável classe media virando pobre.
    Quanto aos ricos cada vez mais ricos.
    Linda semana meu amigo querido.
    Beijos,,Evanir..

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  2. Para onde foi a indignação,
    Dizer não sei, mas penso
    Foi para a má governação
    Que continua sem bom senso.

    Vem aquela secretária dizer
    Aquilo que já nós sabemos
    Continua sem nada esclarecer
    Quanto mais fala menos percebemos.

    Amigo António, obrigado pelas tuas visitas no rima blog eu te dou uma flor.
    Como sabes aquele blog, só admite rima e poesia, como tal espero um ou mais poemas de tua autoria. Os que tu quiseres, mandar. Porque tu mandas e eu obedeço

    Não te esqueças.
    Um abraço.

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  3. Está em «banho maria» quando a mostarda subir ao naris a sério, o Pessoal vai acordar.
    Um abraço
    Virgilio

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  4. Os portugueses não são parvos e sabem que sair para a rua e partir tudo não resolve nada. Quanto mais partirmos mais temos que pagar e seria estar a bater em nós próprios.
    Mais inteligente é como fizeram aqueles mânfios na semana passada, assaltaram a Repartição de Finanças e levaram a massa dos impostos que os chulos nos tiram do bolso.
    Tal e qual como fazia o Robin dos Bosques!

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