segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MEU SONHO DE MARINHEIRO...

Meu barquinho de papel
Estávamos no ano, 1949 tinha sete anos de idade, na escola primária ensinaram-me, (além de ler e escrever)  a fazer barquinhos de papel, com os quais brincava numa pequena lagoa rural...

A barca do campo
Aos domingos pedia a barca a um tio, que servia para ajudar a fazer a sementeira do arroz, convidava dois ou três amigos de infância e vinha-mos navegar para os campos ainda sem arroz, era o bichinho da navegação a crescer...

O carregueiro ao largo da Fig. da Foz
De vez em quando vinha à cidade da Figueira da Foz, que ficava a 50 km de distância, até à praia, acompanhado da minha avó paterna e dos meus cinco primos "Queridos"...Aqui começou o meu fascínio pelo mar, via passar ao largo pequenos barcos de pesca (traineiras) ou carregueiros, depressa nasceu o sonho de ser marinheiro e aos 18 anos de idade comunico a meus pais a minha intenção de ir voluntário para a marinha de guerra, nesse momento vejo cair duas lágrimas dos olhos de minha mãe a dizerem-me: Tonito, és muito novo para te afastares de nós...Perante este cenário de coração de mãe, adiei minhas intenções até aos 20, aí pedi desculpa mas tinha que seguir meu sonho, concorri e depois de no Corpo de Marinheiros do Alfeite, ter feito as provas exigidas fiquei aprovado, no dia marcado das inspeções, quando embarquei na doca da marinha em Lisboa, a bordo duma vedeta da marinha que me levou à Base Naval do Alfeite, tinha começado o meu sonho, só que chegada a hora em que me apresentei como vim ao mundo, em frente do 1º tenente Patrício e me disse: Vais para Fuzileiro, estremeci, a palavra Fuzileiro assustou-me porque não conhecia, era uma especialidade da Armada recentemente criada, mas lá fui era tarde para voltar atrás...

Navio Escola Sagres
Uma vez chegado à Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro e começo a ver as pistas, apercebi-me que dias difíceis de intenso esforço físico me esperava, mas tinha aprendido que "desistir" nunca, o tempo ia passando e a adaptação ia ficando e crescendo, até que num dos cursos (e já depois da recruta) denominado ITE, há ordens para ir embarcar na Sagres para aprender Marinharia, foram bons tempos que lá passei, mas acabaram depressa...

O vaso de guerra, que sonhei fazer parte da tripulação
Dar a volta ao mundo e conhecer outros povos, outras culturas, trocaram-me as voltas, mas fui-me habituando à camaradagem e às regras que militarmente tinha que cumprir, chegou a oportunidade de sair do país, para Angola, pouco agradável porque decorria aquela guerra maluca e sem sentido e lá fui, cumprida a minha missão, regressei mas tinha ficado em mim, as gentes e o cheirinho a África e voltei, desta vez para Moçambique, para cumprir mais uma comissão, regressando à Escola de Fuzileiros, em 1968...

Pista de lodo na Escola de Fuzileiros
Sem saber como as coisas acontecem, surge o meu 1º Castigo, que serviu de trampolim para saltar para França e assim terminou O MEU SONHO DE MARINHEIRO.

10 comentários:

  1. Muito bem velho amigo.Gostei de lêr a tua interessante história respeitante à tua adolescencia,em particular, da tua vida na marinha.Quase todas os que por lá passaram teem lembranças semelhantes que nos marcou,mas,creio que tudo valeu apena, porquanto uma vida adocicada, junto das nossas mãezinas, não dava hoje para dizer aos nossos netos, que dos fracos não reza a história.
    Laranjeira

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  2. A minha história foi um bocado mais complicada, em primeiro lugar a minha Mãe não se opôs a que eu fosse para a Marinha com 18 anos, (coitada, estava farta de me aturar quanto mais depressa eu desaparecesse melhor) nos Fuzileiros as coisas também não correram melhor, ao fim de um ano e tal deram-me um pontapé no traseiro e puseram-me andar dali para fora, o gosto pelo Mar, lá isso aí somos parecidos, também gosto, mas as parecensas devem morrer logo aí, gosto do contemplar, (como sabes daqui donde moro estou a vêlo a toda a hora) mas vê-lo é uma coisa andar lá é outra, eu, na nossa Vedeta da Doca da Marinha até ao Alfeite até aprendi a rezar, tal era o medo que eu tinha que aquilo afundasse, em especial nos dias em que o Mar estava mais revolto, enfim nem tudo é perfeito.
    Um abraço
    Virgilio

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  3. Olá Virgílio:Nesta situação,hoje,de entre nós, parece-me que és o mais previligiado porque podes vêr quando te apetecer, a doca da marinha ao vivo, onde todos nós, entramos por aquele portão verde, pela primeira vêz, por entre navios de guerra aí atracados, até ao Alfeite.Podes parar,observar e meditar outros tempos, bem de perto.
    Um abraço ao escola de 65.
    Laranjeira

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  4. Assim começa o livro das tuas memórias. Agora é uma questão de continuar e preparar o 2º capítulo.
    Nós ficamos à espera.

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  5. Tempo nao voltes pra Traz20 de novembro de 2012 às 10:19

    Tenente Patricio "Algarvio d'um cabrao!..." Desculpe Comandante,eu também sou Algarvio e como o Camarada Antonio, o Senhor também queimou meus sonhos !
    Um abraço a todos e navegar no Mar da Palha nao é nada mau.Eu hà 40 anos que navigo na Seine.
    Manu

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  6. Amigo Laranjeira
    Retribu-o o abraço que me enviou, daqui do blog do nosso Amigo Páscoa, é verdade ainda hoje meio coxo por lá passei junto á Doca da Marinha, e vi a Vedeta, aliás fotografei-a estava eu no Miradouro de Santa Catarina que fica na encosta entre Santos e Cais do Sodré, e a Vedeta estava no Mar da Palha ali para os lados onde a Fragata de D. Fernado ardeu e por lá esteve com o que sobrou durante muitos anos, já muito proxima do ALfeite.
    Um abraço
    Virgilio

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  7. O tenente Patrício,na escola de fuzileiros,na minha recruta,ordenou ao barbeiro, que se localizava à esquerda, por baixo das escadas que dava acesso à messe dos sargentos,onde hoje é o museu,para me dar duas carecadas num espaço de um mês e advertiu-me que me enviava para a prisão do corpo de marinheiros no Alfeite se voltasse lá a aparecer.Disse-me tambem que eu estava numa instituição militar,nos fuzileiros, que nada tinha a vêr com a vida civil,com o ambiente familiar ou com os meus amigos que lá tinha deixado.Ora, logo pensei que os erros praticados eram meus e,como gostava muito da marinha e dos fuzileiros,vi que o tenente Patrício tinha razão.Mas é claro que cada cabeça sua sentença e respeito na totalidade as opiniões dos outros.
    Laranjeira

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  8. Esse nosso barbeiro era o Ramiro, BOM COMPANHEIRO, BOA PESSOA!

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  9. Concordo contigo amigo cóbuence.
    Cumprimentos
    Laranjeira

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  10. O fim de um sonho é sempre o inicio de outro...
    Gostei muito de ler este seu sonho!
    O meu abraço
    Sónia

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