terça-feira, 1 de dezembro de 2015

AINDA SEI QUEM SOU...


Alguém que um dia nasceu numa pequena aldeia da Beira Litoral, onde as portas não precisavam de chave e as janelas não eram trancadas, ficavam abertas desde manhã até ao pôr-do-sol, hora em que se regressava das lides do campo, sem stress nem preocupações, porque se pedia à vizinha para lá ir tratar do gado à hora de almoço! Vida dura, mas assobiava-se e cantava-se o dia todo as mais variadas canções populares, os meninos iam para a escola primária, brincando pelo caminho, alegres porque iam aprender algo de novo, ao regressarem a casa, lanchavam e sabiam que a 2ª tarefa era fazerem os deveres escolares, a seguir podiam ir brincar para a rua com os amigos, estávamos no tempo em que toda a gente se conhecia, diziam bom dia, obrigado e por favor, outros tempos, outra educação, outras mentalidades!
Hoje partem-se janelas, arrombam-se portas, agridem-se os proprietários e matam-se para lhes roubarem 100€, é a liberdade de fronteiras escancaradas!
Os meninos são deixados à porta das escolas, o coração de pais volta apertadinho o dia todo, porque a qualquer momento e em qualquer parte, pode entrar um psicopata armado e começar a matar sem dó nem piedade, só porque sim!
Os professores esforçam-se para ensinar, mas antes de começarem a ensinar terão que passar pela fase de educar, tarefa que cabe aos pais, mas que "por falta de tempo", para os filhos, deixam para o professor!...
Valores e deveres de cidadania que se vão perdendo e dificilmente serão recuperados.


Sei que passei por cá, fiz quase tudo o que compete ao ser humano enquanto ser vivo racional, ultrapassei montes e vales, sempre mentalmente convencido que iria vencer, o tempo ia-me fugindo a passos largos, na tentativa de o acompanhar, exigia de mim próprio, física e mental, forças que me foram faltando, mas não podia desistir: (porque isso era para os fracos)!
Problemas de saúde, começam a querer comandar a cabeça, tronco e membros, que até aqui obedeciam ao meu domínio, «não temo a morte», mas assusta-me a falta de controle de todos os meus pensamentos e movimentos!


Sei que é a lei da vida, só peço para ter a calma e serenidade suficientes para aceitar com resignação, os factores associados ao fracasso e possível demência dum corpo idoso,


Que um dia foi jovem e Fuzileiro, mas que ainda sabe quem é.

8 comentários:

  1. Bom dia Sr António,quem escreve desta maneira tão verdadeira e sentida ,retrata o passado da nossa geração que com muita dignidade fomos fazendo o caminho seguindo os conselhos dos nossos pais e avós,não é agora que estamos mais debilitados pelas achaques que nos vão surgindo que vamos ficar em baixo isso nunca,dá-nos força a família que construímos e nos acompanha dentro do possível com as exigências laborais de cada um.Por todas as razões não o quero ver pessimista.AINDA SEI QUEM SOU é com este pensamento que viveremos dia após dia.Um bj grande para todos vós.

    Clarisse Vieira

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  2. Elá !.. Quando dei inicio á leitura do texto, pensei que estava a ler Eça de Queiroz! (A Cidade e as Serras.
    Mas que grande surpresa! Está muito lindo sim senhor e ainda, até, bem ilustrado.
    Parabéns- Face ao que li, tenho a obrigação de sugerir para o Amigo Páscoa voar mais alto- ou seja:Escrever um livrinho. Que tal a ideia!..(nunca é tarde).
    Grande Abraço e Viva o Blog "Figueira Minha"

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  3. Fiquei preocupada com o texto amigo António. Passa-se alguma coisa de grave consigo? A demência do idoso é um problema grave, sei-o bem já que minha mãe o sofreu. Porém não é certo que todos sofram disso. Meu pai era bem mais velho que a minha mãe, e morreu com 92 anos completamente lúcidos. E mesmo para quem sofre da doença, hoje já há fármacos para retardar a evolução da doença. Não sei porquê este post, mas se não se sente bem, procure o neurologista. Cuide-se.
    Um abraço amigo

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  4. Longe de mim querer assustar os meus queridos amigos/as, com a (demência), essa doença não a conheci em familiares próximos e faleceram todos de velhinhos, o que quis dizer é que é uma das doenças que me assustam!

    Amigo, companheiro e grande comandante Moisés Almeida, já não posso voar muito alto, porque a vida não me deu o privilégio de ter asas, mas vou passando o tempo com os meus postes no "Figueira Minha", e passando para o papel uma espécie de diário de quem fui e quem sou, registando as coisas boas que a vida nos dá, as más são para esquecer, embora algumas deixem marcas irreversíveis!

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  5. Logo até me fiquei apreensiva, amigo António, no entanto no fim
    do que escreveu percebi que poder vir a perder as faculdades mentais, é algo
    que o preocupa. Porque é algo que por mais cuidados que tenhamos, poderá
    acontecer-nos. A minha avó morreu com Alzheimer, e tanto me custou vê-la a não reconhecer ninguém no seu núcleo familiar; nem as filhas, nem os netos.
    Uma bela reflexão; de uma pessoa que sabe que sabe quem é.
    xx

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  6. Calma lá com o andor que esse tempo ainda vem longe!
    Hoje todo mundo chega aos 90 e para isso ainda nos falta muito tempo. Imagina quantos posts ainda vais ter que escrever no Figueira Tua! Tu a escrever e eu a ler, claro está!
    Grande abraço!!!

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  7. Bom dia, por aí, amigo António,
    é bom poder recordar o passado
    com esse teu grande reportório
    por causa dum vidro estilhaçado?

    Ainda sabes quem és,
    António do Carrascal
    calças os sapatos nos pés
    para nas unhas não ficares mal.

    As portas não precisavam de chave,
    dentro de casa quase não havia o que roubar
    telhado te telha vã, em ripas assentes numa trave
    entrava o vento de noite e de dia para a arejar.

    Também não haviam muitos ladrões,
    os que haviam tinham medo de ser encarcerados
    hoje o que mais por aí há, são esfaimados comilões
    atropelam-se uns aos outros na corridas aos tachos!

    Amigo António, tenhas um bom dia de quarta-feira, um abraço.

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  8. Que bom que era apenas uma reflexão. Fiquei assustada. Como disse minha mãe, começou por ser diagnosticada com demência senil, para mais tarde o diagnóstico passar para Alzheimer, A avó do maridão também teve Alzheimer. Daí que saiba bem o que é a doença, e sempre me preocupe quando penso que algum amigo pode ser portador da maldita.
    Um abraço e que continue tudo bem.

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