segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

OLHANDO O MAR...


Olhando o mar, sonho sem ter de quê

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

Fernando Pessoa

1 comentário:

  1. Olhando o mar
    Seguias tu a correr
    Mais à frente devagar
    A fadiga te vencer!

    Neles andavas a navegar
    Quando eras fuzileiro
    Foste à guerra do Ultramar
    A seguir para o estrangeiro!

    Saíste da Marinha
    Para França emigraste
    Sem grão não há farinha
    Algum tempo por lá andaste!

    Quando te fartaste
    Regressaste à tua figueira
    Ao balcão do talho te encostaste
    Lá cortaste e vendeste boa febra!

    Boa segunda-feira para ti,
    amigo António
    um abraço
    Eduardo.

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