domingo, 5 de agosto de 2012

MÃO ESQUERDA E A MÃO DIREITA!

Esta canção pode-se adaptar perfeitamente à atualidade nacional...portugueses de 1ª, portugueses de 2ª!

                                                           CANÇÃO DA MÃO ESQUERDA

Sou gémea da mão direita,
O mesmo ar nos circunda:
Mas ela alçou-se a morgada,
E eu fiquei filha segunda.

Nascemos no mesmo leito,
Na mesma noite estrelada,
Porém, sendo eu irmã sua,
Ela é ama e eu sou criada.

Eu sou bem criada dela,
Que me está sempre a chamar,
Se os chapins laçar deseja,
Se os botões quer abrochar.

Ela é fidalga, eu plebeia,
Assim o quis nossa estrela:
Coisas mesquinhas são minhas,
E coisas belas são dela.

Ela abençoa e agradece,
Leva à boca a sopa quente,
Dá a esmola, colhe a palma
E corta a flor rescendente.

Sobre os Santos Evangelhos
É ela sempre quem jura,
E ante o altar, no casamento,
Quem se mostra e faz figura.

Faz ela o sinal da cruz,
Do dia ao princípio e ao cabo,
E a mim manda-me fazer
Figas às bruxas e ao Diabo!

Ela sempre em fainas nobres
E eu sempre em descansos cruéis...
Só num ponto a venço e humilho:
Anda nua e eu trago anéis!

Mas na cova acabarão
Tantas dif´renças da vida:
Eu comida pelos vermes,
E ela pelos vermes comida!

EUGÉNIO DE CASTRO, Canções desta Negra Vida

3 comentários:

  1. O Grande Eugénio de Castro, aqui esqueceu-se que havia canhotos, e que estes fazem com a esquerda aquilo que os destros fazem com a direita, já em em termos politicos acertou na mouche.
    Um abraço
    Virgilio

    ResponderEliminar
  2. Esta tinha-me passado despercebida, mas gostei de ler!

    ResponderEliminar
  3. Mão esquerda de segunda
    Mão direita de primeira
    A segunda moribunda
    A direita toca punheta!

    Sem forças para o cinto apertar
    Mão esquerda abandonada e esquecida
    Com os cinco dedos para contar
    As passadas amarguras da vida!

    Mão direita manda a esquerda apertar
    Enquanto ela nada fazer
    Sempre a esquerda trabalhar
    A direita sem trabalhar, mais receber!

    Boa segunda-feira para ti, amigo António,
    Um abraço.

    ResponderEliminar