quarta-feira, 4 de junho de 2014

CONDE NINO...


CONDE NINO: De Almeida Garrett

Conde Nino, conde Nino
Seu cavalo vai banhar;
Enquanto o cavalo bebe,
Armou um lindo cantar.
Com o escuro que fazia
El-rei não o pode avistar.
Mal sabe a pobre da infanta
Se há-de rir, se há-de chorar.
- Cala, minha filha, escuta,
Ouvirás um bel cantar:
Ou são os anjos no Céu
Ou a sereia no mar.
- não são os anjos no Céu,
Nem a sereia no mar:
É o conde Nino, meu pai,
Que comigo quer casar.
- Quem se atreve a nomear
Esse vassalo rebelde
Que eu mandei desterrar?
- Senhor, a culpa é só minha,
A mim deveis castigar:
Não posso viver sem ele...
Fui eu que o mandei chamar.
- Cala-te, filha traidora,
Não te queiras desonrar.
Antes que o dia amanheça
Vê-lo-ás ir a degolar.
- Algoz que o matar a ele,
A mim me tem de matar;
Adonde a cova lhe abrirem
A mim me têm de enterrar.
Por quem dobra aquela campa?
Por quem está a dobrar?
Morto é o conde Nino,
A infanta já a expirar.
Abertas estão as covas,
Agora os vão enterrar:
Ele no adro da igreja,
A infanta ao pé do altar.
De um nascera um cipreste,
E de outro um laranjal;
Um crescia, outro crescia,
Co´as pontas se iam beijar.
El-rei, apenas tal soube,
Logo os mandara cortar;
Um deitava sangue vivo,
O outro sangue real;
De um nascera uma pomba,
De outro um pombo torcaz.
Senta-se el-rei a comer,
Na mesa lhe iam poisar:
- Mal haja tanto querer,
E mal haja tanto amar!
Nem na vida nem na morte
Nunca os pude separar.





2 comentários:

  1. Mas que grande reportório!..
    acabei eu de ler sem protestar
    transcrito na figueira do António
    fica mesmo à beirinha do mar!

    Grande Almeida Garrett,
    Conde Nino seu cavalo foi banhar
    depois aparelhá-lho na charrete
    só estou mesmo a imaginar!

    Uma boa noite para ti amigo António.

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  2. Parece que os velhos escritores portugueses tinham mais capacidade inventiva que os modernos!
    Mas que grande embrulhada para explicar um amor de perdição!

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