sábado, 19 de novembro de 2011

A CEIFA NO ALENTEJO

                                      PARA TODOS OS MEUS AMIGOS ALENTEJANOS


Depois do jantar dormem a sesta,- repouso de uma hora ou hora e meia, que lhes parece um segundo... Acordados pelo manageiro, espreguiçam-se e voltam a ceifar. A essa hora o trabalho é custosíssimo, mas desempenham-no heróicamente. Por mais que lhes doa, esquecem os sofrimentos e entregam-se à empreitada, para a vencerem com vantagem. A mira nos ganhos incute-lhes o alento que lhes faltaria sem esse incentivo. Mas o estímulo do dinheiro avigora-lhes a coragem.
  Regueiros de suor fétido encharcam-lhes os corpos afogueados e seminus, despertando-lhes sedes abrasadoras, que lhes escaldam o sangue e lhes queimam a língua. É ver a ansiedade com que os pobres aceitam a barrica de água, que lhes oferece o tardão. Com que avidez tomam a vasilha e a emborcam, esvaziando-a às goladas, passando-a de mão em mão até a esgotarem!...A água é o seu salvatério. A sofreguidão com que a ingerem bem o patenteia.
  Mitigada a sede, ei-los a manobrar de novo, prosseguindo resolutos, como os lutadores antigos nos campos das batalhas.
  Poucos os igualam; ninguém os excede. Homens de ferro, com têmpera de aço, não há seara opulenta que os detenha. Na alucinação da refrega, quando as ideias se lhes concentram no trabalho, só se lhes ouve o passo dos bamborrais e o estalejar dos caules das  espigas derrubadas pelos golpes das foices. E que destreza de golpes!... Aquilo é caminhar para diante e tombar gavelas para trás. Para trás, as gavelas, para diante, a camarada que avança, que avança sempre, deixando um lastro de paveias, como campo juncado de flores, à passagem vitoriosa de um exército triunfante.
  Os rapazes, coitaditos, vêem-se numa fona, a reunirem à pressa a multidão de paveias estendidas  sobre o restolho. Mal apanham e enfeixam umas, já outras os aguardam, e, após estas, outras e outras que lhes não consentem demoras. Num assopro torcem o negalho, enfeixam e atam, correndo adiante, para se não atrasarem...
                                                                                      
                                                   JOSÉ DA SILVA PICÃO.   Através dos campos

2 comentários:

  1. Obrigado meu amigo
    Eu, te confirmo que assim era
    Num Alentejo desprotegido
    Muito lindo na Primavera
    Com o calor nos campos a ceifar
    Muito trigo que se tinha semeado
    À frente dos chicotes a trabalhar
    Com fome, e com medo estava calado
    Era o povo a pensar em segredo
    Entre eles gestos utilizavam
    Pouco, a pouco foram perdendo o medo
    Contra a ditadura se revoltaram.
    Esta canalha nos quer para lá empurrar
    Estão a precisar de um ensinamento
    Se o povo de braços cruzados ficar
    Voltaremos ao tempo do muito sofrimento.
    Contra este governo estou revoltado
    Um qualquer que da toca acabou de sair
    Entra para o governo todo emproado
    Como todos é mais um que só sabe mentir.
    Muito mais tinha para dizer
    Mas, pesando bem vou ficar por aqui
    Não pretendo tudo num dia fazer
    Sobre o Alentejo é verdade tudo o que li.

    Obrigado por te teres lembrado de mim
    Com esta linda prosa alentejana
    Lá nos lindos campos eu vi
    Ceifando o trigo as camponesas de Messejana.

    Desejo para ti, e para tua família
    Um bom fim de semana.

    PS: Não deixes secar a tua figueira!

    Um abraço
    Eduardo.

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  2. Afinal foi fácil cá chegar, desejo-te uma boa estadia na equipa dos bloquistas, embora não seja Alentejano revejo-me neste texto, pois também ceifei alguma coisa, e que trabalho cruel, com o calor a bater nos rins de Sol a Sol era complicado, no Alentejo pior porque as temperaturas são por norma mais elevadas.
    Um Abraço
    Virgílio

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