PARA TODOS OS MEUS AMIGOS ALENTEJANOS
Depois do jantar dormem a sesta,- repouso de uma hora ou hora e meia, que lhes parece um segundo... Acordados pelo manageiro, espreguiçam-se e voltam a ceifar. A essa hora o trabalho é custosíssimo, mas desempenham-no heróicamente. Por mais que lhes doa, esquecem os sofrimentos e entregam-se à empreitada, para a vencerem com vantagem. A mira nos ganhos incute-lhes o alento que lhes faltaria sem esse incentivo. Mas o estímulo do dinheiro avigora-lhes a coragem.
Regueiros de suor fétido encharcam-lhes os corpos afogueados e seminus, despertando-lhes sedes abrasadoras, que lhes escaldam o sangue e lhes queimam a língua. É ver a ansiedade com que os pobres aceitam a barrica de água, que lhes oferece o tardão. Com que avidez tomam a vasilha e a emborcam, esvaziando-a às goladas, passando-a de mão em mão até a esgotarem!...A água é o seu salvatério. A sofreguidão com que a ingerem bem o patenteia.
Mitigada a sede, ei-los a manobrar de novo, prosseguindo resolutos, como os lutadores antigos nos campos das batalhas.
Poucos os igualam; ninguém os excede. Homens de ferro, com têmpera de aço, não há seara opulenta que os detenha. Na alucinação da refrega, quando as ideias se lhes concentram no trabalho, só se lhes ouve o passo dos bamborrais e o estalejar dos caules das espigas derrubadas pelos golpes das foices. E que destreza de golpes!... Aquilo é caminhar para diante e tombar gavelas para trás. Para trás, as gavelas, para diante, a camarada que avança, que avança sempre, deixando um lastro de paveias, como campo juncado de flores, à passagem vitoriosa de um exército triunfante.
Os rapazes, coitaditos, vêem-se numa fona, a reunirem à pressa a multidão de paveias estendidas sobre o restolho. Mal apanham e enfeixam umas, já outras os aguardam, e, após estas, outras e outras que lhes não consentem demoras. Num assopro torcem o negalho, enfeixam e atam, correndo adiante, para se não atrasarem...
JOSÉ DA SILVA PICÃO. Através dos campos
Obrigado meu amigo
ResponderEliminarEu, te confirmo que assim era
Num Alentejo desprotegido
Muito lindo na Primavera
Com o calor nos campos a ceifar
Muito trigo que se tinha semeado
À frente dos chicotes a trabalhar
Com fome, e com medo estava calado
Era o povo a pensar em segredo
Entre eles gestos utilizavam
Pouco, a pouco foram perdendo o medo
Contra a ditadura se revoltaram.
Esta canalha nos quer para lá empurrar
Estão a precisar de um ensinamento
Se o povo de braços cruzados ficar
Voltaremos ao tempo do muito sofrimento.
Contra este governo estou revoltado
Um qualquer que da toca acabou de sair
Entra para o governo todo emproado
Como todos é mais um que só sabe mentir.
Muito mais tinha para dizer
Mas, pesando bem vou ficar por aqui
Não pretendo tudo num dia fazer
Sobre o Alentejo é verdade tudo o que li.
Obrigado por te teres lembrado de mim
Com esta linda prosa alentejana
Lá nos lindos campos eu vi
Ceifando o trigo as camponesas de Messejana.
Desejo para ti, e para tua família
Um bom fim de semana.
PS: Não deixes secar a tua figueira!
Um abraço
Eduardo.
Afinal foi fácil cá chegar, desejo-te uma boa estadia na equipa dos bloquistas, embora não seja Alentejano revejo-me neste texto, pois também ceifei alguma coisa, e que trabalho cruel, com o calor a bater nos rins de Sol a Sol era complicado, no Alentejo pior porque as temperaturas são por norma mais elevadas.
ResponderEliminarUm Abraço
Virgílio