quarta-feira, 2 de março de 2016

DIAS DE CHUVA, DIAS DE LEITURA...

Hoje comecei a ler um livro do nosso conterrâneo MIGUEL TORGA e eis as suas primeiras palavras dirigidas à minha pessoa, (Querido leitor):


São horas de te receber no portaló da minha pequena Arca de Noé.
Tens sido de uma constância tão espontânea e tão pura a visitá-la, que é preciso que te liberte do medo de parecer ufano da obra, e venha delicadamente cumprimentar-te uma vez ao menos. Não se pagam gentilezas com descortesias, e eu sou instintivamente grato e correcto.
Este livro teve a boa fortuna de te agradar, e isto encheu-me sempre de júbilo. Escrevo para ti
desde que comecei, sem te lisonjear,evidentemente, mas também sem ser insensível às tuas reacções.
Fazemos parte do mesmo presente temporal e, quer queiras, quer não, do mesmo futuro intemporal.
Agora sofremos as vicissitudes que o momento nos impõe, companheiros na presente realidade cotidiana; mais tarde, seremos o pó da História, o exemplo promissor ou maldito, o pretérito que se cumpriu bem ou mal. Se eu hoje me esquecesse das tuas angústias, e tu das minhas, seríamos ambos traidores a uma solidariedade de berço, umbilical e cósmica; se amanhã não estivéssemos unidos nos factos fundamentais que a posteridade há-de considerar, estes anos decorridos ficariam sem qualquer significação, porque onde está ou tenha estado um homem é preciso que esteja ou tenha estado toda a humanidade.
(Miguel Torga)

2 comentários:

  1. Gosto muito de Miguel Torga.
    Boa leitura.
    Um abraço

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  2. Não é só a Catarina que tem razão!
    Já naquele tempo Miguel Torga tinha,
    a Europa é um poço de exploração
    muito pior do que a erva daninha?

    Boa noite e recebe um aperto de mão, na tua mão, da mão minha!

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