... Era um pedaço de cortiça, feio.
Mas eu vira fazer barcos tão lindos
De pedaços de cortiça como aquele!
E eu não tinha nenhum barco pra brincar
Como os outros meninos, lá na praia...
Apertei-o bem nas mãos, livres de escolhos,
Olhei-o bem nos meus olhos,
Moldei-o bem na minha alma,
Onde ardiam desejos como círios.
E as lágrimas do menino
- Mais brancas que a cor dos lírios,
Mais puras que asas de anjos-
Deram vida ao sonho antigo,
Tão antigo e sempre novo!
E aquele pedaço de cortiça, feio,
Num sonho se transformou
Em barco lindo-como eu nunca vira!-
Com asas de anjos por velas
E, por bússola, as estrelas!
E, nesse dia,
Apertei-o bem nas mãos,
Olhei-o bem nos meus olhos,
Moldei-o bem na minha alma,
- E fui com o meu barco para a praia
Brincar, como os outros meninos...
MARIANO CALADO, O Abismo e as Estrelas
Barquinho de cortiça, feio,
ResponderEliminarNo Rio Mondego a navegar
Junto à Figueira vai cheio
Por ele António Querido esperar!
Para nele embarcar,
Uma viagem longa fazer
A Metangula vai atracar
Antes do anoitecer!
Depois segue para o Cobué,
Onde chegará antes do sol nascer
Onde tomará um copo de café
Lá passará o dia sem nada para fazer!