CONDE NINO: De Almeida Garrett
Conde Nino, conde Nino
Seu cavalo vai banhar;
Enquanto o cavalo bebe,
Armou um lindo cantar.
Com o escuro que fazia
El-rei não o pode avistar.
Mal sabe a pobre da infanta
Se há-de rir, se há-de chorar.
Se há-de rir, se há-de chorar.
- Cala, minha filha, escuta,
Ouvirás um bel cantar:
Ou são os anjos no Céu
Ou a sereia no mar.
- não são os anjos no Céu,
Nem a sereia no mar:
É o conde Nino, meu pai,
Que comigo quer casar.
- Quem se atreve a nomear
Esse vassalo rebelde
Que eu mandei desterrar?
- Senhor, a culpa é só minha,
A mim deveis castigar:
Não posso viver sem ele...
Fui eu que o mandei chamar.
- Cala-te, filha traidora,
Não te queiras desonrar.
Antes que o dia amanheça
Vê-lo-ás ir a degolar.
- Algoz que o matar a ele,
A mim me tem de matar;
Adonde a cova lhe abrirem
A mim me têm de enterrar.
Por quem dobra aquela campa?
Por quem está a dobrar?
Morto é o conde Nino,
A infanta já a expirar.
Abertas estão as covas,
Agora os vão enterrar:
Ele no adro da igreja,
A infanta ao pé do altar.
De um nascera um cipreste,
E de outro um laranjal;
Um crescia, outro crescia,
Co´as pontas se iam beijar.
El-rei, apenas tal soube,
Logo os mandara cortar;
Um deitava sangue vivo,
O outro sangue real;
De um nascera uma pomba,
De outro um pombo torcaz.
Senta-se el-rei a comer,
Na mesa lhe iam poisar:
- Mal haja tanto querer,
E mal haja tanto amar!
Nem na vida nem na morte
Nunca os pude separar.
Mas que grande reportório!..
ResponderEliminaracabei eu de ler sem protestar
transcrito na figueira do António
fica mesmo à beirinha do mar!
Grande Almeida Garrett,
Conde Nino seu cavalo foi banhar
depois aparelhá-lho na charrete
só estou mesmo a imaginar!
Uma boa noite para ti amigo António.
Parece que os velhos escritores portugueses tinham mais capacidade inventiva que os modernos!
ResponderEliminarMas que grande embrulhada para explicar um amor de perdição!