Conhecida que é a lentidão da nossa justiça, levou-me a recuar ao reinado de D. João IV, para compararmos o procedimento de quem tem o poder de decisão.
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Certo demandista, aprisionado na teia inextricável da labiríntica justiça, após ter consumido os seus interesses e persistência, ano após ano, à espera da solução dum pleito, entravado pela inacção da justiça, fez subir ao rei as suas queixas amargas.
D. João IV mandou investigar e foi informado de que o mal provinha da inércia do escrivão.
Apenas conheceu os resultados da devassa, ordenou que, na madrugada seguinte, o indolente funcionário fosse chamado ao paço e ali aguardasse o mandato real.
Mal flutuam as primeiras claridades da manhã, o escrivão apressara-se a cumprir as determinações de el-rei.
Recebido numa sala do paço, ali esperou aborrecido, esfomeado, a ferver e a referver de impaciência, que D.João IV se lembrasse dele.
É já noite, quando uma porta se abre e, afastadas as pregas do reposteiro, surge o rei. Encara o aspecto sucumbido do escrivão e diz-lhe com ar severo:
-Estás cansado de esperar um dia para me falar? Durante estas horas não reflectiste como custará aos que demandam justiça o esperarem dias, meses e até anos, que a tua cupidez, a tua má-fé, ou a tua preguiça, lhe permitam obtê-la?
Vai com esta pequena lição, dada pela minha clemência, em substituição do castigo que mereces e te daria, se não conhecesse algumas atenuantes para a tua culpa. Livra-te, porém, de que outra queixa suba aos meus ouvidos!
Acabrunhado, o escrivão curvou-se reverente e saiu depois de verificar, por experiência própria, que ninguém deve fazer aos outros o que para si não deseja.
Emília de Sousa Costa, (Lendas de Portugal)
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Certo demandista, aprisionado na teia inextricável da labiríntica justiça, após ter consumido os seus interesses e persistência, ano após ano, à espera da solução dum pleito, entravado pela inacção da justiça, fez subir ao rei as suas queixas amargas.
D. João IV mandou investigar e foi informado de que o mal provinha da inércia do escrivão.
Apenas conheceu os resultados da devassa, ordenou que, na madrugada seguinte, o indolente funcionário fosse chamado ao paço e ali aguardasse o mandato real.
Mal flutuam as primeiras claridades da manhã, o escrivão apressara-se a cumprir as determinações de el-rei.
Recebido numa sala do paço, ali esperou aborrecido, esfomeado, a ferver e a referver de impaciência, que D.João IV se lembrasse dele.
É já noite, quando uma porta se abre e, afastadas as pregas do reposteiro, surge o rei. Encara o aspecto sucumbido do escrivão e diz-lhe com ar severo:
-Estás cansado de esperar um dia para me falar? Durante estas horas não reflectiste como custará aos que demandam justiça o esperarem dias, meses e até anos, que a tua cupidez, a tua má-fé, ou a tua preguiça, lhe permitam obtê-la?
Vai com esta pequena lição, dada pela minha clemência, em substituição do castigo que mereces e te daria, se não conhecesse algumas atenuantes para a tua culpa. Livra-te, porém, de que outra queixa suba aos meus ouvidos!
Acabrunhado, o escrivão curvou-se reverente e saiu depois de verificar, por experiência própria, que ninguém deve fazer aos outros o que para si não deseja.
Emília de Sousa Costa, (Lendas de Portugal)
Gosto muito de lendas e conheço muitas mas não conhecia esta.
ResponderEliminarObrigada pela partilha
Um abraço e vamos lá ver se desta vez o comentário entra
Está com dificuldades em comentar Amiga?
ResponderEliminarAté ao momento, ninguém se tem queixado e eu não noto qualquer anomalia, mas vá dizendo alguma coisa tá!
Já experimentou, no caminhada do oeste?
O meu abraço
Precisamos trocar por um D.João o nosso Cavaco!
ResponderEliminarBoa tarde meu querido amigo,como sempre postando coisas gostosas de se ler...é muito gratificante entrar nos
ResponderEliminarBlogs e ver maravilhas que a gente acaba voltando sempre
Eu gosto da sua visita
Eu gosto do que vc posta
Parabéns por tudo
Abraços
Rita!!!!